O terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o Brasil em um cenário de significativo progresso econômico, mas também trouxe à tona desafios fiscais e sociais que dificultam o desenvolvimento do país. Em dois anos de governo, conquistas relevantes convivem com obstáculos estruturais, criando um panorama de contrastes e complexidade.
A economia brasileira mostrou força e resiliência, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 2,9% em 2023 e um crescimento otimista de 3,5% previsto para 2024. Esses números superaram as expectativas iniciais, impulsionados pelas colheitas recordes de grãos e pelo aumento do consumo das famílias. Contudo, a estabilidade económica sofreu reveses. Embora a inflação tenha caído brevemente abaixo do limite máximo pela primeira vez em três anos, subiu novamente, apontando para fraquezas na política monetária. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego caiu para 6,2% no final de 2024, o nível mais baixo alguma vez registado no país.
Contudo, o desempenho fiscal do governo suscitou críticas e preocupações. As empresas estatais registraram um déficit de R$ 7,4 bilhões (US$ 1,2 bilhão), o maior em 20 anos, enquanto os gastos com salários do setor público foram de R$ 382,2 bilhões (US$ 61,6 bilhões), o que aumentou a pressão sobre o orçamento. Ainda mais alarmante foi o défice orçamental de 1,1 biliões de dólares (177,4 mil milhões de dólares), o maior já registado, mesmo num contexto de crescimento económico robusto e de receitas recorde que estavam quase 10 pontos percentuais acima da inflação.
A reação dos mercados financeiros foi de cautela. A fuga de capitais estrangeiros atingiu US$ 32,4 bilhões e o real se tornou a moeda com pior desempenho em 2024. O dólar atingiu a máxima histórica de R$ 6,26, refletindo a fragilidade da moeda brasileira e as incertezas econômicas.
Na área ambiental, os resultados foram inconclusivos. O desmatamento na Amazônia diminuiu, mas o Cerrado registrou níveis recordes de destruição. O Brasil também sofreu os piores incêndios florestais em 14 anos, com a área queimada 93% maior que no ano anterior. Esses desastres ambientais agravaram crises de saúde pública, como a epidemia de dengue, que resultou na morte de cerca de 6 mil pessoas, o maior número já registrado no país.
Apesar de todas as probabilidades, o governo Lula promoveu o retorno de programas sociais simbólicos. O Bolsa Família foi reintroduzido com valor superior a R$ 600, enquanto o Minha Casa Minha Vida reapareceu como prioridade na agenda habitacional. A política de reajuste do salário mínimo também foi reinstaurada, fortalecendo o compromisso de combater as desigualdades. Registaram-se progressos no sector da educação, com oito dos dez indicadores a mostrarem desenvolvimentos positivos.
Contudo, o combate à pobreza no Brasil mostra sinais contraditórios. Dados do IBGE mostram que milhões de brasileiros saíram da pobreza, com a taxa atingindo o nível mais baixo desde 2012. No entanto, um estudo realizado pela UFMG constatou um aumento significativo no número de pessoas em situação de rua no mesmo período, refutando esta suposição de uma melhoria uniforme nas condições sociais.
No cenário internacional, Lula buscou reposicionar o Brasil como protagonista global. O país assumiu a presidência do G20 e do BRICS e escolheu Belém para sediar a COP30 em 2025. Esses movimentos fortaleceram o papel do Brasil nos debates sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo que fortaleceram sua relevância diplomática.
No entanto, os desafios políticos internos permanecem. A fila de espera do INSS atingiu 1,7 milhão de solicitações, sugerindo gargalo na administração dos benefícios previdenciários. A desaprovação ao governo atingiu 48%, o maior nível desde o início do atual mandato. Além disso, questões sociais como o aumento dos casos de feminicídio e mortalidade infantil indígena trouxeram à tona questões urgentes que requerem atenção imediata.
Lula enfrenta a difícil tarefa de superar esses obstáculos ao tentar consolidar os avanços de seu governo. O equilíbrio entre o crescimento económico, a estabilidade fiscal e a justiça social será crucial para o legado do seu terceiro mandato. Os próximos anos prometem ser um teste à capacidade do governo de navegar num cenário político e económico cada vez mais complexo e moldar o futuro do Brasil num contexto de esperança e incerteza.