O sorriso de flecha, símbolo da Amazônia, estará estampado no Produto Interno Bruto (PIB) de Aragão. A Amazon Web Services (AWS), subsidiária tecnológica da gigante americana, anunciou ontem um investimento de 15,7 mil milhões de euros na comunidade aragonesa até 2033. Este é o maior investimento tecnológico no sul da Europa e provavelmente o maior alguma vez anunciado em Espanha. Para se ter uma ideia da dimensão do plano da Amazon, o projeto da Volkswagen de eletrificar as suas fábricas de automóveis na península, considerado até agora o maior investimento de uma empresa estrangeira em Espanha, tem um orçamento de 10 mil milhões de euros.
Por isso, a apresentação do projeto foi celebrada ontem com grande alarde pelo presidente da comunidade, Jorge Azcón, juntamente com os principais gestores da multinacional na Espanha e da infraestrutura amazônica na Europa – Suzana Curic e Niamh Gallagher –. O projeto envolve a expansão das três infraestruturas que a empresa fundada por Jeff Bezos possui em Aragão (em El Burgo de Ebro, Villanueva de Gállego juntamente com Saragoça e Plhus, em Huesca) para construir a maior rede de data centers do sul da Europa. Essas colmeias de servidores são essenciais para armazenamento de dados em nuvem e computação na Internet.
A multinacional vai construir um edifício operacional em Saragoça. No total, as instalações digitais vão ocupar mais de 350 hectares na região, segundo dados da empresa, que pretende criar 6.800 novos empregos. “É o investimento mais importante que se fez na história da comunidade autónoma e o mais importante que se fará na Europa nos próximos anos”, sublinhou ontem Azcón.
A AWS escolheu Aragão como uma das suas regiões estratégicas há quase cinco anos, quando decidiu construir os data centers, mas o passo dado ontem significa seis vezes o seu investimento inicial.
Os três data centers que já estão em funcionamento há um ano e meio, localizados em Huesca e no cinturão de Saragoça, significaram há dois anos a criação de 1.300 empregos e o investimento de 2,5 mil milhões de euros em dez anos, mas as expansões de todos eles, segundo Azcón, aumentarão a riqueza da comunidade autónoma em 30% nos próximos anos e “posicionarão Aragão como uma potência tecnológica não só em Espanha, mas como um centro tecnológico a nível continental e global”.
Há duas questões que foram fundamentais para Aragão aceitar este investimento milionário: terrenos e energia; e um terceiro que tornou isso possível: as portas abertas de uma Administração que encurta procedimentos e acelera procedimentos para grandes empresas de tecnologia. Com efeito, horas antes do anúncio deste investimento, o Conselho do Executivo Aragonês aprovou a declaração de interesse regional nesta expansão, que irá agilizar e reduzir o tempo de licenciamento em até 50%. O facto de o projecto ser declarado PIGA, ou de interesse geral, permite ainda a realização de desapropriações de terrenos, se necessário. Não será pela terra, mas pela energia – apesar da elevada procura por estas instalações de dados, que nem mesmo os seus proprietários querem quantificar – também não.
“Todas as empresas intensivas no consumo de energia têm que olhar para Aragão”, convidou Azcón. A verdade é que a comunidade já produz o dobro do que consome através de fontes renováveis, sobretudo eólica e fotovoltaica. E por enquanto, setores que, como este, envolvem alta demanda de energia elétrica, podem ser permitidos. Os três data centers aragoneses, sublinhou o responsável da empresa em Espanha, são alimentados por eletricidade gerada por fontes renováveis. Não é pouca coisa. O seu consumo já implicou mais 20% no total da comunidade, e isto sem ter em conta a expansão agora anunciada.
Necessidade de água
Mas os data centers não precisam apenas de vento e sol. Também água. Por isso, Suzana Curic fez outro anúncio importante numa região onde os recursos hídricos são sempre fonte de conflito: a Amazon Web Services “devolverá à rede a água que consome”. Uma verdadeira declaração de intenções sustentáveis. E resta saber se acabarão por chegar outros anúncios, no domínio das renováveis. No momento, a empresa não pensa em promover parques próprios de geração de energia elétrica para se abastecer. Fá-lo – conforme relatado – com alianças e acordos externos. Mas quando questionado sobre isto, o próprio Azcón não descartou: “Aragón é líder na produção renovável e queremos continuar, talvez com novidades muito em breve”.
O talento digital é outra chave para uma empresa como esta anunciar um investimento milionário. Curic mencionou isso em seu discurso, anunciando também o interesse da empresa em construir pontes com as duas universidades aragonesas, a pública de Saragoça e a privada de San Jorge, localizada precisamente no município onde está localizado um dos data centers da Amazon. , Villanueva de Gállego.
A empresa americana tem diversas iniciativas em andamento como o seu programa Pense em um grande espaço treinar alunos de escolas locais em disciplinas tecnológicas. E o Governo também acompanha a empresa neste compromisso. “Multiplicaremos as vagas nos cursos universitários e na formação profissional que as empresas mais exigem”, explicou Azcón. Na semana passada, o Executivo aragonês anunciou um parque tecnológico de 40 hectares que verá a luz, segundo palavras do presidente, ao longo desta legislatura para promover a atividade empresarial tecnológica.
A visão de Aragão como um centro tecnológico é o que está por trás de todos estes planos e investimentos milionários. A ideia do governo autônomo é que a tecnologia seja como o automóvel já foi com a chegada da multinacional Opel (hoje Stellantis) ou a logística com a Inditex, o novo motor de uma região que aspira a conquistar um papel de liderança em não apenas na nuvem, mas em todo o sul da Europa. E para isso também é necessária colaboração política. Jorge Azcón processou-a quando contou, em declarações após o anúncio, como ligou ao “Ministro Escrivá para lhe falar sobre o investimento da Amazon, mas a sua agenda não permitiu que ele ou o Secretário de Estado comparecessem”. E apontou ainda mais diretamente quando pediu a mesma colaboração que, no plano de Transição Digital do Governo de Espanha, está contemplada, por exemplo, para projetos como o supercomputador Mare Nostrum, na Catalunha. Azcón hasteou a bandeira da igualdade e fá-lo sempre em segundo plano, no meio de uma batalha política agora que também se aproximam as eleições europeias.
O Ministro da Transformação Digital, José Luis Escrivá, está em viagem à Coreia do Sul mas a nota de apresentação do projeto inclui algumas declarações dele avaliando-o. “Ele ratifica a Espanha como eixo plataforma digital chave no sul da Europa com grandes vantagens, como a conectividade e as condições climáticas e energéticas locais”, afirma o ministro, que acrescenta que o investimento da subsidiária Amazon coloca o país “na vanguarda da inovação tecnológica e da inteligência artificial na Europa”. .
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